Música Contemporânea

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Em Julho de 2002, numa sala apertada da Fundação de Educação Artística, o mais importante compositor brasileiro vivo, Gilberto Mendes, abriu o Fórum dos compositores com a seguinte frase: “Podemos dizer que toda a música erudita da América Latina está aqui representada.” Eram cerca de quarenta dos mais importantes compositores da América Latina que vieram a Belo Horizonte para participar do IV Encontro de compositores e intérpretes latino-americanos realizado pela FEA. Como estudante de música, tive o privilégio de participar desse fórum na expectativa de acompanhar de perto uma discussão estética sobre os procedimentos de composição da música atual. Tamanha foi a surpresa ao observar que não haveria nem tempo nem espaço para os compositores falarem de seu trabalho. A questão central a ser discutida era a falta de espaço, de incentivo e de público para a música erudita contemporânea. Um problema comum em todos os países da América Latina.

Realmente é difícil para o público comum ter acesso à música do século XX e XXI. Primeiro, pela falta de uma educação musical básica, já que se trata de um tipo de música que não se direciona apenas ao deleite mas também ao estranhamento e à experimentação, requerendo, muitas vezes, do ouvinte, um esforço de escuta comum naqueles que já passaram por um processo de iniciação musical. Segundo, pela falta de oportunidade de ter contato com esse tipo de música, já que são raros os espaços para concertos de música contemporânea. Terceiro, pela falta de incentivo a esse universo de experimentação que não sobrevive segundo a lógica do mercado e da indústria cultural. Desse modo, a produção musical experimental de vanguarda acaba sendo mal compreendida e submetida a um público extremamente restrito.

No entanto, a música erudita contemporânea tem um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem musical, explorando novas formas conectadas ao pensamento e à filosofia da nossa época. Nesse sentido, Minas Gerais sempre representou um dos pólos da produção erudita brasileira, desde o Barroco mineiro aos compositores atuais.

Em Belo Horizonte, a Fundação de Educação Artística, especialmente através do trabalho da diretora Berenice Menegale, tem ocupado o papel de estimular a produção, a educação e a veiculação da música erudita contemporânea. Além dos quatro encontros de compositores e intérpretes latino-americanos realizados, a FEA mantém um constante contato e intercâmbio com compositores contemporâneos daqui e de vários lugares do mundo, exibindo suas peças em séries de concertos como no projeto “Manhãs Musicais”, iniciado em 1963 para a divulgação da música do século XX e retomado em 2002. Em 1967, a FEA idealizou e realizou o 1º Festival de Inverno, em Ouro Preto, evento que em seguida foi assumido pela UFMG e no qual a FEA continuou coordenando e executando o programa de música até o ano de 1986. Mais recentemente, em 2006, criou o grupo Oficina Música Viva – Núcleo de criação e divulgação da música contemporânea, coordenado pelo músico e compositor Rubner Abreu.

Pedro Aspahan